A edição do Jornal Nacional de quinta-feira (14) começou com a história de uma brasileira da periferia de São Paulo chamada Cibele. Ela tem duas filhas e dois netos, está desempregada e como tantos milhões de brasileiros, não consegue pagar serviços básicos, como água e luz.
A auxiliar administrativa Cibele Cristina da Conceição Oliveira foi demitida no começo da pandemia, há dois anos. Passou a fazer faxina e lavar roupas, juntou um dinheiro e comprou um carrinho de fazer pastel. Ficou empolgada, pensou: “Agora vai, né? Vou engatar, vou ser uma microempresária. Vai que rola”. Mas, há um mês, ela teve que parar de novo.
“Veio aquela decepção de não vir cliente para comprar. Você ir comprar uma mercadoria, um dia está um preço, no outro dia está outro”, conta.
Sem dinheiro, há um ano e meio, não paga as contas de água e luz. “Não que a energia ou a água não sejam prioridade. Sim, é uma prioridade, entendeu? Mas uma mistura dentro de casa também é uma prioridade. Mas aqui tem água e luz; acho que é devido a eu estar morando na periferia que eles não cortaram, graças a Deus”, diz.
Os economistas dizem que a inflação é o que mais influência nessa situação. O consumidor precisa comer, por isso ele prioriza as compras dos alimentos. E com os preços subindo nas gôndolas dos mercados, o dinheiro ficou ainda mais curto e sobraram cada vez mais contas no fim do mês.
“Já faz uns seis, sete meses que a inadimplência sobe, juntamente com a escalada da inflação. Praticamente é uma variável que impacta diretamente o bolso de milhões de brasileiros. Inflação alta corrói o poder de compra, corrói capacidade de pagamento e as pessoas, por causa da inflação, vão se tornando inadimplentes naquelas dívidas ou compras que estavam pagando, mesmo com dificuldade, mas pagando de certa forma em dia”, afirma Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
Os números mostram a dificuldade dos brasileiros em pagar essas contas. Mais de 20% das dívidas em atraso hoje são de serviços básicos e são exatamente os boletos atrasados de água, luz e gás, os que os consumidores mais procuram quitar – na frente das contas de cartões e bancos, financeiras e varejo.
E as contas vão se acumulando. Em março, só 18,8% das dívidas vencidas há mais de um ano foram resolvidas. Em parte, por causa dos juros, que tornam o atraso cada vez mais pesado.
Uma outra pesquisa, realizada em todas as regiões do país, revela o tamanho da falta de dinheiro: sete em cada dez brasileiros vivem em uma situação econômica muito apertada, gastando tudo ou até mais do que ganham no mês.
“Esse aumento de preços pega, principalmente, a camada mais frágil da população, as pessoas com menos renda. Você tem botijão de gás acima de R$ 100, e você tem os preços da alimentação que pegam firmemente o orçamento das famílias mais pobres”, explica Fábio Gallo, professor FGV-SP.

Por Jornal Nacional.

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